quarta-feira, 23 de julho de 2014

Sobre o Casamento na Roça

Bas tarde, pessoar!!!


Hoje eu vou postar sobre o casamento na roça que eu ensaiei com meus alunos, na EMEF Biriricas.
Deu bastante trabalho e perdemos (na verdade, acho que ganhamos) algum tempo ensaiando, mas o resultado foi uma peça muito divertida, e os ensaios cuidaram de estreitar meus laços com eles, e acho que pode ter ajudado um pouco a eles perceberem que tudo o que nós fazemos, têm que ser de acordo com a ocasião. Foram duas semanas que nos renderam muitas risadas, alguns esporros, umas pouquinhas confusões...mas no fim, deu tudo certo, e aqui vai o resultado.

Abaixo do vídeo, anexei o texto original usado na peça! ;)

NARRADOR:           Mês de Julho aqui na roça,
É tão cheio de alegria
Tudo os caipira se adverti
Pois tem festança tudo dia.

As muié faiz os quitute
Os hómi faiz as foguera
Os casar ensaia as quadria
Com cumilança, músca e brincadera.
  
Tem gente qui inté faiz as novena
Pros Santo Antonho, Pedro e São Jão.
Faiz prumessa di tudo tipo
Pra cunsegui casamento bão.

A festança já teve início
Já comêro pipoca e canjicão
E tem uns hómi já vermeio
Di tano tomá quentão...

Mas agora peço a tenção
Puis tá na hora do principar
O casório mais isperado
Das pessoa daqui desse lugar...

Pedimos a atenção do povo neste momento
Que vai acuntecê agora um casamento.

Todos se posicionam em seus lugares. O padre vai para o altar, os padrinhos do noivo do lado direito e os padrinhos da noiva do lado esquerdo. Começa a tocar a marcha nupcial e entram os pais do noivo, se lamentando e resmungando, bem de cara feia.
Em seguida, entra o pai da noiva puxando o noivo por uma corda. O noivo entra todo amuadinho, de cabeça baixa, triste que só...
Ao chegar no altar, o pai da noiva amarra o noivo na mesa do altar e diz:

PAI DA NOIVA: Agora você não escapa, sua hora chegou... Na verdade, eu tenho até pena de você, por causa de que a Raimundinha vai mandar nocê. Mas eu num nego um presente pra minha filhinha, né? Então guenta aí que hoje ocê é presente dela!

Depois entra a mãe da noiva, com uma cara de felicidade e alívio, com uma plaquinha dizendo: minha filha vai desencalhar!!!

Então, entra a noiva, toda apressada e pisando pesado, sem nenhuma delicadeza. Nem espera a música acabar, nem cumprimenta ninguém, joga o buquê de couve-flor na mesa do altar e fala:

NOIVA: Como é, seu padre? Faz logo esse casório que eu num guento mais essa solteirice!
PADRE: Calma, minha filha...
MÃE DA NOIVA: Minha filha, se comporta!
NOIVA: Ai, mãe! Tô cum pressa...
PADRE: Vamos então iniciar a celebração do casamento de Raimundinha, fia do cumpadi seu Raimundo mais a dona Mocinha, e do Jorjão, fio do cumpadi seu Manel Malasarte mais a dona Pequena. É do saber de ocês tudo que cumpadi seu Raimundo é dono das terra das Capivara, logo mais ali, donde fica a venda, o buteco e essa igreja, por causa de que foi dificil se negar a fazer esse casório. Então vamo deixa de conversa e começar logo esse trem.
PADRE: Seu Jorjão, é de sua livre vontade se tornar esposo de dona Raimundinha?
NOIVO: (fica de cabeça baixa, quase com vontade de chorar, e olha o pai da noiva)
PAI DA NOIVA: Anda, seu danado...
NOIVO: (com voz baixinha) Aceito, seu padre.
PADRE: Raimundinha, é de sua livre vontade se tornar esposa de seu Jorjão?
NOIVA: Seu padre, se o sinhor continuar enrolando nóis cum essas pergunta besta, eu vou mandar o pai derrubar essa capelinha de melão!
PADRE: Eu só preciso de mais uma perguntinha... (fala meio sem graça)
 (agora fala mais alto, com mais força) Se tem alguém que sabe de alguma coisa que pode impedir  esse casório, fale agora ou cale-se para sempre!

EX-NAMORADA: Euuuuuuuu!!! Para tudo, gente! Esse noivo era meu, antes dessa Raimundona fazer o pai dela tomar as terra do seu Manel e obrigar o acontecimento desse casório ridículo!
NOIVA: Cala a boca, piriguete! O padre disse "livre vontade"! Ele aceitou! Num foi Jorjão? (dá um tapão nas costas dele)
(a ex-namorada puxa ele por um braço e a noiva pelo outro.)
(as duas começam a bater boca, sem segurá-lo e os pais seguram as duas pra tentar separá-las)
(nesse momento, o noivo se desamarra e sai correndo. A noiva percebe e começa a gritar pro pai)
NOIVA: Ô, pai, olha ele correndo ali!!!!
PAI DA NOIVA: Calma, filhinha, papai vai buscar ele procê! (e sai correndo atrás do noivo)
EX-NAMORADA: Enquanto seu pai num volta, quero ver você se ocê merece ele mesmo! Que ver ocê ganhar ele na raça! Vem, vem me enfrentar!
(música de luta. A mãe da noiva coloca luvas de boxe na noiva e a mãe do noivo coloca luvas na ex-namorada.)
(as duas começam a se posicionar como se fossem começar a lutar, quando o pai volta, com o noivo)
PAI DA NOIVA: Olha aqui, filhinha, trouxe ele de volta. Agora fala, seu danado. Fala que ocê num vai fugir mais, pra a minha Raimundinha ficar feliz!
NOIVO: Seu Raimundo, eu vou falar a verdade, com todo respeito se o senhor me permite.
PAI DA NOIVA: Fala, então. Olha aí, fia...ele vai dizer... (fala pra Raimundinha com um risinho besta)
NOIVO: Mas então o senhor me solta, que eu num vô fugir...
(o pai da noiva desamarra Jorjão)
NOIVO: Esse negócio d muié é um trem complicado por demais. Eu quero mexer com isso não. Bão mesmo é ficar solteiro...
(a ex-namorada, abaixa a cabeça, tira as luvas e sai de fininho, a noiva começa a chorar no ombro do pai, os pais do noivo comemoram, e os outros componentes pegam cada um, um par para dançar a música que toca.)
PADRE: Pois é, minha gente! Muié é um trem complicado e cumprumisso num devia existir... Bão mesmo é a festa! Vamo dexá de tristeza e festejá a vida, os amigos que vieram aqui hoje, as comidas boas... Pra continuá com a festança, vamo pegá cada um seu par e entrá na dança da quadrilha!!!


FIM!!!!

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