Hoje eu vou postar sobre o casamento na roça que eu ensaiei com meus alunos, na EMEF Biriricas.
Deu bastante trabalho e perdemos (na verdade, acho que ganhamos) algum tempo ensaiando, mas o resultado foi uma peça muito divertida, e os ensaios cuidaram de estreitar meus laços com eles, e acho que pode ter ajudado um pouco a eles perceberem que tudo o que nós fazemos, têm que ser de acordo com a ocasião. Foram duas semanas que nos renderam muitas risadas, alguns esporros, umas pouquinhas confusões...mas no fim, deu tudo certo, e aqui vai o resultado.
Abaixo do vídeo, anexei o texto original usado na peça! ;)
NARRADOR:
Mês de Julho aqui na roça,
É tão cheio de alegria
Tudo os caipira se adverti
Pois tem festança tudo dia.
As muié faiz os quitute
Os hómi faiz as foguera
Os casar ensaia as quadria
Com cumilança, músca e brincadera.
Tem gente qui inté faiz as novena
Pros Santo Antonho, Pedro e São Jão.
Faiz prumessa di tudo tipo
Pra cunsegui casamento bão.
A festança já teve início
Já comêro pipoca e canjicão
E tem uns hómi já vermeio
Di tano tomá quentão...
Mas agora peço a tenção
Puis tá na hora do principar
O casório mais isperado
Das pessoa daqui desse lugar...
Pedimos a atenção do povo neste momento
Que vai acuntecê agora um casamento.
Todos se
posicionam em seus lugares. O padre vai para o altar, os padrinhos do noivo do
lado direito e os padrinhos da noiva do lado esquerdo. Começa a tocar a marcha
nupcial e entram os pais do noivo, se lamentando e resmungando, bem de cara
feia.
Em seguida,
entra o pai da noiva puxando o noivo por uma corda. O noivo entra todo
amuadinho, de cabeça baixa, triste que só...
Ao chegar no
altar, o pai da noiva amarra o noivo na mesa do altar e diz:
PAI DA NOIVA:
Agora você não escapa, sua hora chegou... Na verdade, eu tenho até pena de
você, por causa de que a Raimundinha vai mandar nocê. Mas eu num nego um
presente pra minha filhinha, né? Então guenta aí que hoje ocê é presente dela!
Depois entra a
mãe da noiva, com uma cara de felicidade e alívio, com uma plaquinha dizendo:
minha filha vai desencalhar!!!
Então, entra a
noiva, toda apressada e pisando pesado, sem nenhuma delicadeza. Nem espera a
música acabar, nem cumprimenta ninguém, joga o buquê de couve-flor na mesa do
altar e fala:
NOIVA: Como é,
seu padre? Faz logo esse casório que eu num guento mais essa solteirice!
PADRE: Calma,
minha filha...
MÃE DA NOIVA:
Minha filha, se comporta!
NOIVA: Ai, mãe!
Tô cum pressa...
PADRE: Vamos
então iniciar a celebração do casamento de Raimundinha, fia do cumpadi seu
Raimundo mais a dona Mocinha, e do Jorjão, fio do cumpadi seu Manel Malasarte
mais a dona Pequena. É do saber de ocês tudo que cumpadi seu Raimundo é dono
das terra das Capivara, logo mais ali, donde fica a venda, o buteco e essa
igreja, por causa de que foi dificil se negar a fazer esse casório. Então vamo
deixa de conversa e começar logo esse trem.
PADRE: Seu
Jorjão, é de sua livre vontade se tornar esposo de dona Raimundinha?
NOIVO: (fica de
cabeça baixa, quase com vontade de chorar, e olha o pai da noiva)
PAI DA NOIVA:
Anda, seu danado...
NOIVO: (com voz
baixinha) Aceito, seu padre.
PADRE:
Raimundinha, é de sua livre vontade se tornar esposa de seu Jorjão?
NOIVA: Seu
padre, se o sinhor continuar enrolando nóis cum essas pergunta besta, eu vou
mandar o pai derrubar essa capelinha de melão!
PADRE: Eu só
preciso de mais uma perguntinha... (fala meio sem graça)
(agora fala mais alto, com mais força) Se tem
alguém que sabe de alguma coisa que pode impedir esse casório, fale agora ou cale-se para
sempre!
EX-NAMORADA:
Euuuuuuuu!!! Para tudo, gente! Esse noivo era meu, antes dessa Raimundona fazer
o pai dela tomar as terra do seu Manel e obrigar o acontecimento desse casório
ridículo!
NOIVA: Cala a
boca, piriguete! O padre disse "livre vontade"! Ele aceitou! Num foi
Jorjão? (dá um tapão nas costas dele)
(a ex-namorada
puxa ele por um braço e a noiva pelo outro.)
(as duas
começam a bater boca, sem segurá-lo e os pais seguram as duas pra tentar
separá-las)
(nesse momento,
o noivo se desamarra e sai correndo. A noiva percebe e começa a gritar pro pai)
NOIVA: Ô, pai,
olha ele correndo ali!!!!
PAI DA NOIVA:
Calma, filhinha, papai vai buscar ele procê! (e sai correndo atrás do noivo)
EX-NAMORADA: Enquanto
seu pai num volta, quero ver você se ocê merece ele mesmo! Que ver ocê ganhar
ele na raça! Vem, vem me enfrentar!
(música de
luta. A mãe da noiva coloca luvas de boxe na noiva e a mãe do noivo coloca
luvas na ex-namorada.)
(as duas
começam a se posicionar como se fossem começar a lutar, quando o pai volta, com
o noivo)
PAI DA NOIVA:
Olha aqui, filhinha, trouxe ele de volta. Agora fala, seu danado. Fala que ocê
num vai fugir mais, pra a minha Raimundinha ficar feliz!
NOIVO: Seu
Raimundo, eu vou falar a verdade, com todo respeito se o senhor me permite.
PAI DA NOIVA:
Fala, então. Olha aí, fia...ele vai dizer... (fala pra Raimundinha com um
risinho besta)
NOIVO: Mas
então o senhor me solta, que eu num vô fugir...
(o pai da noiva
desamarra Jorjão)
NOIVO: Esse
negócio d muié é um trem complicado por demais. Eu quero mexer com isso não.
Bão mesmo é ficar solteiro...
(a ex-namorada,
abaixa a cabeça, tira as luvas e sai de fininho, a noiva começa a chorar no
ombro do pai, os pais do noivo comemoram, e os outros componentes pegam cada
um, um par para dançar a música que toca.)
PADRE: Pois é, minha gente! Muié é um trem complicado e cumprumisso num devia existir... Bão mesmo é a festa! Vamo dexá de tristeza e festejá a vida, os amigos que vieram aqui hoje, as comidas boas... Pra continuá com a festança, vamo pegá cada um seu par e entrá na dança da quadrilha!!!
FIM!!!!
Parabéns!!!
ResponderExcluirObrigada, Gabi!!!
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