terça-feira, 10 de junho de 2014

Soneto de Separação - Vinícius de Moraes

De repente do riso fez-se o pranto 
Silencioso e branco como a bruma 
E das bocas unidas fez-se a espuma 
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. 

De repente da calma fez-se o vento 
Que dos olhos desfez a última chama 
E da paixão fez-se o pressentimento 
E do momento imóvel fez-se o drama. 

De repente, não mais que de repente 
Fez-se de triste o que se fez amante 
E de sozinho o que se fez contente. 

Fez-se do amigo próximo o distante 
Fez-se da vida uma aventura errante 
De repente, não mais que de repente.

Oceano Atlântico, a bordo do Highland Patriot, a caminho da Inglaterra, setembro de 1938


quinta-feira, 5 de junho de 2014

Sobre o momento de hoje

Tenho percebido umas coisas atualmente na minha vida, mas o porquê não estou compreendendo. Parece que eu vou ficar doida. Parece que as coisas nunca vão mudar.

Não têm sido suficiente que eu seja uma profissional esforçada. Tenho me dedicado ao máximo na minha profissão (o que no momento atual, é o que me resta) mas ainda assim não sou boa. Não é o bastante. É sempre preciso dosar o que se fala na escola, e fazer com que os alunos estejam em silêncio absoluto durante as aulas. É preciso que eles aprendam a ler e escrever com atividades prazerosas, mas sempre sem causar turbulências no horário de aula, sem atrapalhar as outras turmas. De preferência, sem nem gastar o material da escola. Não é o bastante ser amável com eles, tentar fazê-los entender que nem sempre se pode falar palavrão ou dizer o que pensa sobre os colegas. É preciso fazer isso sem que eles "confundam as coisas" e não me vejam como amiguinha. Não é o suficiente gastar meu tempo e meu dinheiro cuidando de itens que a escola precisa, sempre faltarão uns e outros e isso vai caracterizar uma exclusão, uma injustiça.

Não foi o suficiente eu ter me esforçado para ser uma boa namorada. Não bastou eu ter assumido, arriscando a minha credibilidade, que eu estava em um relacionamento com alguém que tinha tanta diferença de idade. Não bastou eu ter paciência e querer esperar o tempo certo para as coisas acontecerem. Não bastou eu amar, com toda a minha verdade e tolerar, com toda a calma que eu nunca tive. Não foi o suficiente eu me contentar em perder o título de namorada e aceitar um "namorico de portão". Não bastou eu ser grata apenas por este amor existir. Ainda era preciso mais.

Não é suficiente que eu aceite as inúmeras vezes que precisei de companhia e sempre haviam outros compromissos importantes. Não é o bastante que eu aceite todas as críticas em praticamente tudo o que eu faço. Não é o bastante que eu tenha perdido quase todos os meus amigos. Eu também perdi noites por causa do desânimo, passeios por causa da falta de companhia, férias por estar sozinha. Não foi suficiente que eu tenha tentado ser uma boa amiga, uma pessoa sincera. Ainda assim, tenho passado meus últimos fins de semana dentro de casa, isolada, mergulhada em um oceano de mim mesma.

Não é o bastante que eu seja uma filha grata e colaborativa. Não é o bastante que eu pense muito na minha mãe e nas noites em que ela não dorme quando saio, para não sair de casa e não deixá-la preocupada. Não basta que eu não peça dinheiro a ela para me vestir e me cuidar. Não basta que eu evite aborrecê-la com os problemas que ela não pode resolver pra mim. Ainda assim, não tenho a confiança dela, ainda não tenho autonomia para decidir certas coisas sobre a nossa própria casa.

Não basta eu amar a minha família. Não é suficiente eu mostrar a eles o quanto eu os amo e como eles me fazem feliz quando estamos todos juntos. Eles ainda assim me desprezam e não se importam se estamos bem aqui em casa, se queremos visitá-los, se eles podem vir nos visitar. Eles preferem ficar cada um na sua nova família e nos ver apenas quando fazemos alguma coisa aqui em casa.

Acho que anda fazendo tudo errado. Queria ser uma pessoa que não liga pra nada disso, mas eu ligo.
Eu tento afastar essa solidão de mim, mas não consigo. E se a culpa é minha, queria saber o que fazer pra ser uma pessoa legal, bem-relacionada... Acho que talvez eu não mereça. Acho que talvez a minha missão no mundo eu ainda não saiba qual é.

Isso tudo não quer dizer que eu quero um reconhecimento. Não é nada disso. Eu só queria mais respeito, mais consideração. Queria que meus sentimentos fossem respeitados, porque me sinto pisada, sinto que o que meus sentimentos não são levados em conta quando certas atitudes são tomadas em relação a mim. A retribuição que preciso é aquela que muita gente não vê o quanto eu preciso...

That's All!