quinta-feira, 27 de junho de 2013

Como fiz um TCC em 20 dias - parte III [A história da escola de Santa Isabel]

CAPÍTULO 1: A HISTÓRIA DA ESCOLA DE SANTA ISABEL


1.1 – A História Contada

O histórico de criação e desenvolvimento da atual Escola de Santa Isabel até o momento inexiste no que se refere à material escrito. Dessa forma fez-se necessária a coleta de depoimentos, na forma de vídeo que posteriormente foram transcritos. Tais depoimentos foram dados por pessoas de grande influência na comunidade, como uma das diretoras da escola, dona Edith Wernersbach Stein, 72 anos e um professor da escola numa época mais atual, Pe. Abílio Pereira Pinto, 80 anos.

Como afirma BOSI (1979) utilizar-se da memória de idosos é importante porque eles são a prova viva de um passado e sua evolução: presenciaram as alterações ocorridas no lugar e nas pessoas, da mesma forma como percebem que as relações interpessoais também sofreram alterações. A aquisição destes depoimentos se faz de grande importância considerando que é a partir deles que se pode chegar a saber como a escola foi criada e evoluiu até os dias atuais. Justifica-se, portanto, a fala dos idosos como o instrumento pelo qual a história foi adquirida.

Ao lembrar o passado ele não está descansando, por um instante, das lides cotidianas, não está se entregando fugitivamente às delícias do sonho: ele está se ocupando consciente e atentamente do próprio passado, da substância mesma da sua vida. (BOSI, 1979. p.60)

Depoimento de dona Edith Wernersbach Stein, 72 anos, professora aposentada:

“Nasci e comecei a estudar em Bom Jesus, que hoje faz parte do município de Marechal Floriano. Em 1954, o ano que me formei, vim para Santa Isabel por causa do concurso de ingresso estadual que ocorreu. Havia duas vagas para a escola de Marechal Floriano e quatro vagas para a escola de Campinho, mas meu pai só me deixaria trabalhar se eu escolhesse a escola de Vila Isabel. Então, comecei a trabalhar como professora. Passei em 1º lugar no concurso e entrei na escola, que se chamava IIª Escola Singular de Isabel, por que o lugar se chamava “Vila Isabel” e não Santa Isabel, como se chama hoje. Nessa época, a escola funcionava lá no salão paroquial, no lugar onde a escola funciona hoje, mas possuía apenas uma sala de aula, dividida em duas partes. Os alunos tinham muito respeito pelo professor, os alunos respeitavam tanto os pais quanto os professores, eles escreviam no caderno as regras de convivência que eram estabelecidas logo no primeiro dia de aula, e todos obedeciam por que havia mesmo, muito respeito. Na escola não tinha funcionários, a merenda era feita pela empregada que eu tinha em casa, com a verba que a escola recebia, mas não tínhamos nem merendeira, nem servente, a limpeza era feita pelo próprio professor. Os alunos maiores iam até a casa do professor para buscar a merenda feita, e assim era o recreio. Antes de a escola receber a verba do estado, os alunos traziam o lanche deles. Alguns não traziam nada, e infelizmente, ficavam sem o que comer. Vinham de longe, andando horas para chegar até a escola, mas estavam sempre limpos, uniformizados, mantinham sempre o respeito. Em sete de setembro, todos compareciam com o uniforme tingido e passado, sempre muito alinhados. As turmas eram sempre grandes, nunca tive menos que 36 alunos em sala de aula, mas todos compareciam nos desfiles.”

Depoimento do Padre Abílio Pereira Pinto, 78 anos, pároco da comunidade de Santa Isabel:

“Nasci e estudei os primeiros anos de minha vida no distrito de Aracê, onde não tínhamos ensino completo, por este motivo vim para Santa Isabel para concluir o Ensino Primário e fazer o exame de admissão para ir para o Ginásio. Estudei aqui apenas um ano, em 1945, no qual fui aluno do Padre Egon, e no ano seguinte fui estudar em Minas Gerais. Voltei à comunidade em 1970, para ser pároco da comunidade e professor de Português no Ginásio, mantido pelo CNEC (o que corresponde atualmente às séries finais do Ensino Fundamental). A escola funcionava como um internato para nós, alunos de fora da comunidade, saíamos da casa dos padres apenas para ir à escola e à igreja, visitávamos nossas famílias muito pouco, tanto que nem lembro com que frequência. Tínhamos normas muito rigorosas, que nos mantinham em ordem tanto no lugar onde morávamos quanto onde estudávamos. Eram coisas simples para a convivência coletiva, pois éramos muitos meninos, devíamos saber nos organizar. Regras como arrumar as camas, engraxar os sapatos, manter armários arrumados, respeitar sempre os professores. Não lembro bem se havia indisciplina nas salas de aula, isso é muito mais comum hoje em dia do que naquela época. Na escola, não havia outros funcionários, nem secretária, nem servente, era apenas o professor e os alunos. Mesmo assim, não aconteciam problemas com falta de respeito ou molecagem, isso é coisa de hoje em dia. A sala era cheia, tinha mais ou menos uns 30 ou 40 alunos, e todos sabiam como se comportar, até por que se não houvesse esse bom comportamento, a gente voltava para casa, para trabalhar na roça e podia esquecer o Ginásio que queríamos fazer.”

Através destes depoimentos nota-se que a Escola de Santa Isabel passou por várias modificações e adaptações no que tange ao nome, ao lugar de funcionamento, ao tipo de alunos que recebeu, ao nível de ensino que ofertou. Todas essas transformações aconteceram por necessidade e pela própria evolução do lugar, uma vez que mais alunos foram matriculados na escola, surgindo assim a necessidade de uma adaptação.

É evidente que nenhuma dessas alterações ocorreu subitamente. Sendo assim, fez-se importante que os relatos fossem analisados em conjunção com as fotografias. Conforme aponta KOSSOY (2001), a veracidade da fotografia enquanto documento histórico é incontestável:
[...] ao comparar os conteúdos fotográficos do passado aos dos demais documentos pictóricos ou escritos, se estará diante do desconcertante verismo da informação visual fotográfica, o que diferencia em essência as fontes fotográficas das demais.
(p. 158)

A transcrição do que foi dito é também objeto de estudo que merece maior atenção. Assim, para que haja a credibilidade do documento escrito em relação ao documento fotográfico, torna-se prática a conferência em mais de um depoimento a fim de que as informações tenham respaldo. De acordo com BOSI (1979),

Uma memória coletiva se desenvolve a partir de laços de convivência familiares, escolares, profissionais. Ela entretém a memória de seus membros, que acrescenta, unifica, diferencia, corrige e passa a limpo. Vivendo no interior de um grupo, sofre as vicissitudes da evolução de seus membros e depende de sua interação. (p.410-411)


Com isso, a história relatada foi revisada e analisada através de um estudo e averiguação feitos com outros membros da comunidade escolar e da igreja.

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