CAPÍTULO 1: A HISTÓRIA DA ESCOLA DE SANTA ISABEL
1.1 – A História Contada
O
histórico de criação e desenvolvimento da atual Escola de Santa Isabel até o
momento inexiste no que se refere à material escrito. Dessa forma fez-se
necessária a coleta de depoimentos, na forma de vídeo que posteriormente foram
transcritos. Tais depoimentos foram dados por pessoas de grande influência na
comunidade, como uma das diretoras da escola, dona Edith Wernersbach Stein, 72
anos e um professor da escola numa época mais atual, Pe. Abílio Pereira Pinto,
80 anos.
Como
afirma BOSI (1979) utilizar-se da memória de idosos é importante porque eles
são a prova viva de um passado e sua evolução: presenciaram as alterações
ocorridas no lugar e nas pessoas, da mesma forma como percebem que as relações
interpessoais também sofreram alterações. A aquisição destes depoimentos se faz
de grande importância considerando que é a partir deles que se pode chegar a
saber como a escola foi criada e evoluiu até os dias atuais. Justifica-se,
portanto, a fala dos idosos como o instrumento pelo qual a história foi
adquirida.
Ao lembrar o passado ele não está descansando, por um instante, das lides
cotidianas, não está se entregando fugitivamente às delícias do sonho: ele está
se ocupando consciente e atentamente do próprio passado, da substância mesma da
sua vida. (BOSI, 1979. p.60)
Depoimento de dona Edith
Wernersbach Stein, 72 anos, professora aposentada:
“Nasci e comecei a estudar
em Bom Jesus, que hoje faz parte do município de Marechal Floriano. Em 1954, o
ano que me formei, vim para Santa Isabel por causa do concurso de ingresso
estadual que ocorreu. Havia duas vagas para a escola de Marechal Floriano e
quatro vagas para a escola de Campinho, mas meu pai só me deixaria trabalhar se
eu escolhesse a escola de Vila Isabel. Então, comecei a trabalhar como
professora. Passei em 1º lugar no concurso e entrei na escola, que se chamava
IIª Escola Singular de Isabel, por que o lugar se chamava “Vila Isabel” e não
Santa Isabel, como se chama hoje. Nessa época, a escola funcionava lá no salão
paroquial, no lugar onde a escola funciona hoje, mas possuía apenas uma sala de
aula, dividida em duas partes. Os alunos tinham muito respeito pelo professor,
os alunos respeitavam tanto os pais quanto os professores, eles escreviam no
caderno as regras de convivência que eram estabelecidas logo no primeiro dia de
aula, e todos obedeciam por que havia mesmo, muito respeito. Na escola não
tinha funcionários, a merenda era feita pela empregada que eu tinha em casa,
com a verba que a escola recebia, mas não tínhamos nem merendeira, nem
servente, a limpeza era feita pelo próprio professor. Os alunos maiores iam até
a casa do professor para buscar a merenda feita, e assim era o recreio. Antes
de a escola receber a verba do estado, os alunos traziam o lanche deles. Alguns
não traziam nada, e infelizmente, ficavam sem o que comer. Vinham de longe,
andando horas para chegar até a escola, mas estavam sempre limpos,
uniformizados, mantinham sempre o respeito. Em sete de setembro, todos
compareciam com o uniforme tingido e passado, sempre muito alinhados. As turmas
eram sempre grandes, nunca tive menos que 36 alunos em sala de aula, mas todos
compareciam nos desfiles.”
Depoimento do Padre Abílio
Pereira Pinto, 78 anos, pároco da comunidade de Santa Isabel:
“Nasci e estudei os
primeiros anos de minha vida no distrito de Aracê, onde não tínhamos ensino
completo, por este motivo vim para Santa Isabel para concluir o Ensino Primário
e fazer o exame de admissão para ir para o Ginásio. Estudei aqui apenas um ano,
em 1945, no qual fui aluno do Padre Egon, e no ano seguinte fui estudar em
Minas Gerais. Voltei à comunidade em 1970, para ser pároco da comunidade e
professor de Português no Ginásio, mantido pelo CNEC (o que corresponde
atualmente às séries finais do Ensino Fundamental). A escola funcionava como um
internato para nós, alunos de fora da comunidade, saíamos da casa dos padres
apenas para ir à escola e à igreja, visitávamos nossas famílias muito pouco,
tanto que nem lembro com que frequência. Tínhamos normas muito rigorosas, que
nos mantinham em ordem tanto no lugar onde morávamos quanto onde estudávamos.
Eram coisas simples para a convivência coletiva, pois éramos muitos meninos,
devíamos saber nos organizar. Regras como arrumar as camas, engraxar os
sapatos, manter armários arrumados, respeitar sempre os professores. Não lembro
bem se havia indisciplina nas salas de aula, isso é muito mais comum hoje em
dia do que naquela época. Na escola, não havia outros funcionários, nem
secretária, nem servente, era apenas o professor e os alunos. Mesmo assim, não
aconteciam problemas com falta de respeito ou molecagem, isso é coisa de hoje
em dia. A sala era cheia, tinha mais ou menos uns 30 ou 40 alunos, e todos
sabiam como se comportar, até por que se não houvesse esse bom comportamento, a
gente voltava para casa, para trabalhar na roça e podia esquecer o Ginásio que
queríamos fazer.”
Através destes depoimentos
nota-se que a Escola de Santa Isabel passou por várias modificações e
adaptações no que tange ao nome, ao lugar de funcionamento, ao tipo de alunos
que recebeu, ao nível de ensino que ofertou. Todas essas transformações aconteceram
por necessidade e pela própria evolução do lugar, uma vez que mais alunos foram
matriculados na escola, surgindo assim a necessidade de uma adaptação.
É evidente que nenhuma dessas
alterações ocorreu subitamente. Sendo assim, fez-se importante que os relatos
fossem analisados em conjunção com as fotografias. Conforme aponta KOSSOY
(2001), a veracidade da fotografia enquanto documento histórico é
incontestável:
[...] ao
comparar os conteúdos fotográficos do passado aos dos demais documentos
pictóricos ou escritos, se estará diante do desconcertante verismo da
informação visual fotográfica, o que diferencia em essência as fontes
fotográficas das demais.
(p. 158)
A transcrição do que foi dito
é também objeto de estudo que merece maior atenção. Assim, para que haja a
credibilidade do documento escrito em relação ao documento fotográfico, torna-se
prática a conferência em mais de um depoimento a fim de que as informações
tenham respaldo. De acordo com BOSI (1979),
Uma memória
coletiva se desenvolve a partir de laços de convivência familiares, escolares,
profissionais. Ela entretém a memória de seus membros, que acrescenta, unifica,
diferencia, corrige e passa a limpo. Vivendo no interior de um grupo, sofre as
vicissitudes da evolução de seus membros e depende de sua interação.
(p.410-411)
Com isso, a história relatada
foi revisada e analisada através de um estudo e averiguação feitos com outros
membros da comunidade escolar e da igreja.
Carol, ameii!
ResponderExcluirParabéns pela escolha do seu tema no tcc.
Obrigada, Dani!!!
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