CAPÍTULO 2: IMAGENS QUE FALAM
2.1 – O olho que vê o passado
Para
KOSSOY (2001) toda captura é feita com algum objetivo: se é retratar uma
pessoa, um lugar, ou se a foto destina-se a servir como documento de alguma
construção. O que se conclui é que no mundo onde se passou a possuir uma
máquina com o fabuloso poder de retratar fielmente as imagens que são vistas e
colocá-las no papel, a fotografia adquiriu também valor de documento, não
apenas histórico, mas como objeto de arquivo, para futura pesquisa. Assim, as
imagens que foram coletadas são referentes, em sua maioria, a épocas antigas –
aproximadamente da década de 1950 – da comunidade, retratando seu cotidiano
simples e interiorano.
A fotografia não está enclausurada à condição de registro iconográfico,
isento dos cenários, personagens e fatos das mais diversas naturezas que
configuram os infinitos assuntos a circundar os fotógrafos, onde quer que se
movimentem. Há um olhar e uma elaboração estética na construção da imagem fotográfica.
A imaginação criadora é a alma dessa forma de expressão. [...] (KOSSOY, 2001.
p.49)
Refletindo
acerca de todos os depoimentos adquiridos e observando as fotografias
coletadas, os alunos da Escola de Santa Isabel iniciaram suas análises, conhecendo
mais sobre a criação e adaptação do seu próprio
âmbito educacional. Os alunos selecionados a participar da investigação,
primeiro passaram por alguns critérios de seleção no que diz respeito à
disponibilidade de frequentar a escola em um turno matutino,
dificuldade/facilidade no transporte e interesse no assunto. De acordo com a
direção da escola, os alunos matriculados no turno vespertino seriam mais
adequados a participarem pelo fato de não precisarem sair da sala de aula.
Dentre os 96 alunos do turno vespertino, dezesseis inscreveram-se para
participar, mas nas atividades compareceram apenas seis.
A
primeira ação foi realizar uma mostra dos vídeos obtidos com as entrevistas. A
pesquisa com os depoimentos foi construída juntamente com eles e a história foi
novamente contada e “costurada”. Com isso, tivemos a oportunidade de juntar
todas as partes contadas e montar a história oficial, que faz parte do primeiro
capítulo desta pesquisa.
2.2 – As imagens do passado, o que dizem?
Conforme
a história da escola surgia e tomava forma, as imagens adquiridas tomavam lugar
de “ilustração” dessa história. Analisar com mais calma essas fotografias, por
sua vez, tornou-se objeto indispensável para maior compreensão de tamanha
importância. Não se pode, portanto, deixar de relacionar imagem e palavra, pois
ambas apresentam complementaridade, são coordenadas uma à outra. De acordo com
JOLY (1994) é através desse dialogismo entre imagem-palavra que se pode
verificar a veracidade do que é retratado no que se vê. Relação esta confirmada
por KOSSOY (2001) quando diz:
Deve-se por outro lado entender que a imagem fotográfica é um meio de
conhecimento pelo qual visualizamos microcenários do passado; contudo, ela não
reúne em si o conhecimento do passado. O exame das fontes fotográficas jamais
atingirá sua finalidade se não for continuamente alimentado de informações
iconográficas (...) e das informações escritas de diferentes naturezas contidas
nos arquivos oficiais e particulares, [...]
(KOSSOY, p. 78, 2001.)
Assim,
a partir de questionamentos simples, os alunos analisaram as fotografias
coletadas relacionando-as à história já ouvida.
Foto
1: Leilão de Gados para arrecadação de fundos beneficente à construção do
Pré-Juvenato São Francisco Xavier. Santa Isabel, por volta de 1956. Arquivo
pessoal de dona Edith Wernersbach Stein
“Vejo
na foto, como a descrição mesmo diz, um leilão de bois na praça. Sei que é a
pracinha daqui por causa do busto do Irmão Câncio que está ali. Há muitas casas
velhas, bois e homens. Eles estão com muita disposição para arrematar um boi.
Hoje em dia, a fachada das casas é diferentes, o busto está em outro lugar, não
acontecem mais leilões no meio da rua. Acontecem, mas só quando tem festa aqui.
Essas são as diferenças principais.”
João
Victor Guarnier Astori, 14 anos, aluno da 8ª série.
Foto
2: Alunos do Pré-Juvenato São Francisco Xavier. (sem data) Arquivo pessoal de
dona Edith Wernersbach Stein
“Na
foto, aparecem meninos usando farda. Eles estão alinhados para tirar foto.
Provavelmente, tirar foto não é um hábito deles por que eles estão muito duros
na pose, e estão muito sérios também. Só alguns estão rindo, devem ser os mais
atentados da turma. Eles estão em um lugar onde tem muito mato e o professor
está no fundo da foto observando tudo. Pela cara dele, deve ser muito rígido.”
Ítalo
Uliana Guarnier, 13 anos, aluno da 7ª série.
Foto
3: Inauguração do Pré-Juvenato São Francisco Xavier. Arquivo pessoal de dona
Edith Wernersbach Stein
“As
pessoas estão em volta do seminário, dá pra ver que está tendo uma festa lá. A
rua é muito diferente da de hoje em dia. Hoje tem pavimentação, muitas casas em
volta. O seminário não é mais assim, agora lá tem quadra, campo de futebol,
piscina.”
Ítalo
Uliana Guarnier, 13 anos, aluno da 7ª série.
[Continua na próxima devido a quantidade de imagens a carregar...]