quarta-feira, 17 de abril de 2013

E a capacidade de SOBREviver


Por muitas vezes eu me considero uma pessoa um tanto neurótica por não possuir uma capacidade simples: não me adapto à solidão. Para mim, é simplesmente insuportável a sensação de me sentir sem ter com quem conversar, com quem me distrair, até mesmo com quem contar. Eu sei, é irônico demais uma pessoa como eu ser tão insegura assim. Vou explicar-lhes dizendo que desde que me conheço por gente, sou desse jeito. Para tanto, porém, é preciso que eu volte às épocas finais de 1986, tempos que fui concebida, para que meu leitor entenda melhor.

Então, de repente, eu existi. A princípio uma gravidez indesejada, fruto de uma relação não-oficial entre a minha mãe e Sr. Ninguém (por que nada consta em minha certidão de nascimento). Dona Carminha, aos 34 anos, professora, me conta que a felicidade da vida dela foi descobrir que seria mãe. Decidiu então que me amaria independente de quem mais estaria ao lado dela. Sr. Ninguém, por sua vez, afirmou que não sabia do que se tratava o assunto. "Não quero filhos". Essa foi a primeira situação em que me rejeitaram, me abandonaram. E foi aí, antes mesmo de nascer e de saber que eu sou quem eu sou, tive a primeira sensação de ser sozinha. O próximo passo foi ser anunciada aos meus avós. Mesma reação. Minha mãe não foi bem tratada com a notícia. Novamente, não fui bem aceita. E novamente antes mesmo de ser quem sou, me senti abandonada.

Localizada em lugar longe de casa, minha foi trabalhar e se sentiu bem recebida em comunidade estranha. Ali, conheceu meu pai. Chegou a hora que o mundo me solicitava e então, numa sexta-feira, às 9:45 da manhã, no dia 08 do mês de maio de 1987, chorei pela primeira vez. E pela primeira vez, ao ouvir meu choro, as pessoas não me rejeitaram. Meu tio me registrou, minha tia me deu banho, e minha avó sorriu para mim... E não parou mais de sorrir, enfim me aceitando.

Apesar de já ter sido aceita por toda a família de minha mãe e de já ter ganhado um pai, eu cresci sentindo o peso de ser sozinha. Não tive irmãos e nem a noção de que aquele pai não me dara sua carga genética. A cada noite que todos dormiam, eu chorava a solidão que me restava. A cada visita que aparecia em casa e se despedia, eu chorava. A cada amiga que se aproximava de mim e depois mudava de ideia, eu chorava.

As pessoas não entendem que essa sensação é mais forte que eu. É muito mais que abandono. É mais do que não ter com quem conversar. É algo como se a minha alma fosse sozinha, um vácuo. Contudo, não é sempre que esse vazio me surpreende. Até porque sou pessoa de pouquíssimas amizades. Pouquíssima confiança. Por isso tamanha insegurança me invade. Por isso acabo cedendo à solidão. Preciso me livrar disso e tenho escrito como uma válvula de escape. Por mais que eu sei que tem pessoas que eu posso contar sempre... Ainda assim, o mundo me abandona. As pessoas passam pela minha vida e eu sempre acabo me despedindo delas. Não mais aos prantos, como quando eu era criança (aliás essa a primeira lembrança que eu tenho: eu correndo de camiseta e calcinha na rua aqui na frente de casa, chorando porque alguém estava indo embora). Mas me despeço com angústia, com nó na garganta, com a impressão de que a pessoa nunca vai voltar.

A vida tem me ensinado que as despedidas são inevitáveis. Sei que todos se despedirão de mim um dia. Dos importantes, já me despedi de amores, já me despedi da minha avó, já me despedi de bons amigos que não são mais amigos. E sobrevivi. Acho que a minha angústia é essa, ter sobrevivido. Talvez se quem fosse embora fosse eu, se eu deixasse alguém pra trás ao invés de ser deixada. Se eu quebrasse as barreiras e deixasse esse passado nebuloso aqui onde ele está. Talvez assim eu me livraria disso.  Mas enquanto isso não acontece, me resta escrever. Me resta iludir a minha solidão com a intuição que alguém me lê, e talvez eu seja compreendida. A vida não foi boazinha comigo no que tange à ser socialmente ativa, mas pelo menos eu vivo. Vivo na solidão. Mas vivo!

Ufa...hoje foi pesado, né?

"Essa obra de NÃO-ficção baseia-se em fatos reais. Qualquer semelhança com nomes de personagem NÃO é mera coincidência".

[Boa Noite!]

Mas gente.... como não amar um neném desse??? *.*

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